quarta-feira, 10 de junho de 2009

"Com a Voz no Foco"
Curso de Técnica Vocal - Primeira parte
A voz é o som básico produzido pela laringe, por meio da vibração das cordas (tecnicamente chamada de pregas) vocais.
Os principais órgãos do aparelho fonador são: sinos paranasais, maxilar (especialmente durante a articulação), palato duro e palato mole, língua, epiglote, laringe e pregas vocais (situadas dentro da laringe).
Os órgãos do aparelho respiratório são: boca, fossas nasais, traquéia e pulmão.
Auxiliam o aparato respiratório durante a inspiração e expiração do ar: as costelas inferiores, o músculo do diafragma (abaixo do pulmão) e a pélvis (abaixo do diafragma).

Exercícios:

Duas vezes ao dia, durante 15’, fazer os seguintes exercícios:

· Exercício físico: (Uma vez ao dia)
1 - Alongamento: pescoço, ombros, peito, braços, quadril, pernas. Girando, esticando; aquecendo sem cansar.

2 - Cinco seqüências de cinco abdominais intercaladas com uma respiração profunda.
(O exercício serve para fortalecer o diafragma, aquecer o corpo e aumentar a resistência física).

· Aquecimento vocal:
Vibração da língua (trrrrã), com atitude de bocejo, glissando do registro médio para o grave e vice-versa. (Não exceder a 2 minutos).
(O Exercício serve para aquecer, remover secreções e distender as pregas vocais).

Vibração dos lábios (brrrr), glissando em todos os registros da voz.
(O exercício causa sensação de formigamento nos ressonadores, devido à intensa circulação sanguínea nessa região. Serve para dar extensão à voz e colocá-la no ponto focal. Inclusive, o exercício sana disfonias, rouquidão, etc).
(Intercalar os exercícios de vocalize com (brrr), quando for necessário).

· Conceitos de respiração “intercostal”, “apoio” e “coluna de ar”, e exercícios:

1 - Respiração intercostal, profunda: Inspirar (respirar) com nariz e boca. Enquanto os pulmões são preenchidos de ar, devemos senti-los expandir entre as costelas inferiores que se abrem e também do meio das costas às laterais.
Cuidar-se da respiração excessiva, produto da pressão sub-glótica, ou seja, ocupando de ar toda a garganta, causando a sensação de asfixia e estrangulamento, o que impede a livre vibração das pregas vocais.

2 - “Apoio” diafragmático e coluna de ar: O diafragma é um músculo abaixo do pulmão que, contraído, pressiona-o para cima, fazendo acelerar a saída de ar, auxiliando na livre vibração das pregas vocais.
Para favorecer a coluna de ar, deve-se contrair a região abdominal do estômago à região pélvica (veja a pélvis no primeiro gráfico da pg. 1), retraindo ou encolhendo essa região com certa rigidez durante a expiração.

3 - Exercício de Controle da coluna de ar (Tssss): Com a respiração intercostal profunda e a sensação de “apoio”, procure controlar a expiração (Tsss), sem oscilar a saída de ar, mantendo sempre o mesmo fluxo até acabar.
Procure alcançar o tempo de 1’30’’ durante a exalação (expiração).
(Intercalar os exercícios de expiração prolongada com a respiração purificadora).

(Com a respiração intercostal e o “apoio”, o fluxo de ar contínuo e firme faz com que as pregas vocais vibrem com maior velocidade e soltura durante o canto, evitando as fadigas e tensões durante a emissão canora em todos os registros da voz).
Os exercícios de controle da coluna de ar, vibrações (trrr, brrr) e ressonância (boca-chiusa), não podem se dissociar da postura técnica utilizada durante o canto, pois, obviamente, é em função de bem cantar que os fazemos.
(Grande parte do segredo do canto está no domínio do mecanismo da respiração intercostal e do “apoio” diafragmático durante a expiração).

4 – Expiração em staccato: numa única respiração, fazer 10 contrações abdominais, enérgicas, curtas e rápidas, produzindo o som de: Tss (conte com os dedos das mãos).
Repetir o exercício cinco vezes, intercalando com uma respiração bocal, rápida e abundante como um “gole de balde de ar” em atitude de bocejo.
(O exercício serve para adquirir velocidade e volume ao cantar; domínio e resistência abdominal).

· Ressonância: Função do palato mole e exercício com “boca-chiusa”:

O palato mole, quando arqueado em extremo, toca nos ressonadores, (ponto de impostação da voz), colocando a voz no foco. Nesta posição de arqueamento do palato, a laringe baixa, dando maior soltura para as pregas vocais vibrarem.

Boca-Chiusa (boca fechada e espaçada na região do palato mole): Através da consoante (R), ao expirar, pode-se sentir o ar passando pelo palato mole. Seguido a vogal
(Ã) da consoante (R), ou seja, (RÃ), com o palato mole arqueado em extremo, imposte a vogal (Ã) nos ressonadores, com a firmeza necessária para obter o melhor brilho e vibração possível.
Ao longo da emissão, fazer movimentos alternados de arqueamento do palato na vertical e na horizontal, dando movimento ao bocejo, procurando obter maior amplitude e vibração nos ressonadores.
No arqueamento do palato ou na atitude de bocejo, ter o cuidado de não deixar a voz “engolar”, recuando para a nuca.

Deve-se dominar a sincronia (junção) do “apoio” durante a expiração, com o palato mole bem arqueado e a voz apontada e firme nos ressonadores. Nesta ação sincrônica, será possível manter o brilho da voz com soltura e leveza em toda a sua extensão; não ocasionando sensação de desconforto e tensão muscular no pescoço, pregas vocais, etc.
Com boa técnica, torna-se possível alcançar os registros mais agudos e cantar durante longas horas, sem causar fadiga (cansaço) vocal.
(“Boca-Chiusa” é o principal exercício para colocar a voz no foco, obtendo brilho e maciez ao cantar. Ao ter essa sensação, cante as vogais neste mesmo ponto focal, procurando o melhor timbre possível. Sua voz estará pronta e aquecida para cantar).

· Emissão das vogais:
As vibrações das pregas vocais só ocorrem ao se dizer as vogais.
Com as vogais se canta; com as consoantes se articula.
As principais vogais para o desenvolvimento pleno do canto são: I; U; Ã.
Entre as cinco vogais, as extremo-opostas são: (I) e (U).
Durante o canto, tenha cuidado com a vogal (É), se estiver com o acento agudo. Sua emissão deve rumar para o (Ê - francês), evitando que o timbre caia do ponto focal (ressonadores) para a garganta, resultando num som parecido com o berro de bezerro.

O coro deve cantar em uníssono (único som) em matéria de: afinação, tempo rítmico, timbre, articulação e dinâmica (expressão).

Dicção: A pronúncia das palavras deve ser clara e firme para não ouvirmos “empastado”.
Timbre: No registro grave, as vogais devem ser emitidas de forma “aberta” e clara, cuidando de não deixar desarmar o arco do palato mole, para não perder o brilho.
Em toda extensão vocal, o timbre deve ser sempre o mesmo, ou seja: brilhante “aberto” no registro grave; e brilhante “coberto” no registro agudo.
No registro agudo, aos iniciantes é mais garantido cantar com pleno volume e inteira abertura bocal, até dominar a técnica vocal e poder cantar a “mezza vocce”. No registro agudo, as vogais devem estar protegidas com a “voz de cobertura”, procurando cantar com amplitude.
“Voz de cabeça”
A emissão das vogais nas regiões de passagem, ou seja, do registro médio para o agudo, deve ser da seguinte forma:
Gradativamente, a vogal (A) ruma para (Ã); as vogais (I) e (E) rumam para (I) e (Ê) francês; a vogal (Ó) ruma para (Ô) fechado; a vogal (U) se faz arqueando o palato mole em extremo, na vertical. (Na vogal (U), ter cuidado para não “engolar”, ou “entubar” a voz).

Forma durante a emissão:

Grave – médio – agudo
(Á) (A) (Ã)
(E) (Ê)
(Í) (Ü) - alemão, ou, (I) francês
(Ó) (O) (Ô)
(U) (Ú) - o palato mole é extremamente
arqueado e a voz é apontada para frente

Pontos de articulação e emissão das vogais: “Triângulo vocálico”

Como vimos anteriormente, a língua tem a sua posição própria em cada vocal, e segue o curso do “Triângulo Vocálico”.
Durante a emissão, as vogais devem estar projetadas no ponto da vogal (I) do triângulo, localizado acima dos dentes incisivos superiores.

Para obter brilho nas vogais (I) e (U):

O brilho da vogal (U) se obtém através da vogal (Ô) rumando o arco do palato mole para a forma da vogal (U); Com o palato arqueado, dizer ou cantar: RÔUU (a boca e o palato mole buscam a posição vertical);
O brilho da vogal (I) se obtém através do (NHÊ “apertado ou espremido”), rumando para o (I), ou seja, (NHEÍ!). Com a mesma postura da articulação (NHÊ “apertado”), cante RÊII,

(a boca e o palato mole se posicionam na horizontal. O meio da língua, quase que toca no “céu da boca” (palato duro), auxiliando no arqueamento do palato mole. Para alcançar a emissão brilhante, procure “espremer” a vogal (I) e pronunciá-la com mais penetração; para fora).

Funções das principais vogais durante os vocalizes:

Vogal (I): “Desentuba” a voz, trazendo-a para fora, conferindo brilho e penetração às demais vogais. Nos exercícios de vocalização, a vogal (I) geralmente antecede as vogais. Ex: IÃ, IÊ, IÔ, IU; Também é a melhor vogal para os exercícios de velocidade.
Vogal (U): Confere extensão e arredondamento à voz, devido ao arqueamento do palato mole proporcionar o abaixamento da laringe, fazendo com que as pregas vocais vibrem com maior soltura e elasticidade.
Vogal (Ã): Confere amplitude, grandeza, cobertura e maciez às demais vogais.

Para alcançar harmonia, arredondamento, boa forma na emissão das vogais, exercite-as, alternando-as umas com as outras. Ex: (I-Ú, U-Ó, I-Ê-A) (U-Ô-Ó-A-E-I; ou, I-Ê-U-Ô-Ó-Á-Ã).

· Expressão: Preceitos de “Mezza Vocce” e “Vibrato”:

Para cantar no registro agudo a “meia-voz” (mezza voce), ou seja, menor volume, sem perder o brilho na emissão, é necessário dominar a sincronia entre a respiração intercostal, a coordenação muscular abdominal e pélvica - “apoio”, o palato arqueado e a voz firme nos ressonadores, conforme foi descrito anteriormente.

Vibrato: Grande parte da expressão canora também está no “vibrato”.
Embora o “vibrato” não seja utilizado em todas as ocasiões, conseguir produzi-lo é sinal certo de que grande parte da técnica vocal está sendo dominada.
Sabemos que o palato mole, quando arqueado em extremo, toca nos ressonadores, colocando a voz no foco. Nesta posição de arqueamento do palato mole, a laringe baixa, dando maior soltura às pregas vocais para vibrarem.
Para produzir o vibrato é necessário fazer a forma de um amplo bocejo, procurando máxima amplitude e apontar a voz com firmeza nos ressonadores. Garanta o posicionamento baixo da laringe ao arquear o palato mole, segurando-a com os dedos. Então, tente produzir o vibrato cantando, com a “voz de cobertura”, as vogais: Ã; Ê; I (francês); Ô; U.

· Consoantes que auxiliam na impostação da voz

Durante os exercícios de vocalize, as principais consoantes para antecederem as vogais e auxiliarem na impostação da voz são: M e N lábio - nasais; NH, GÜ, QÜ e R palatais; B e P lábio – explosivas.
A consoante R é a única que nos faz sentir o ar passar pelo palato mole. (Utilizar com freqüência este recurso desidrata (resseca) e ofende as pregas vocais).


· EXERCÍCIOS DE VOCALIZE:

Fazer os vocalize em “legato” (ligado) e “staccato” (destacado) com intervalos de terças, quintas, sétimas, etc., com: NIAÃ, NIOÔ, NIUÚ, MINHAU, NINHÊ, NIÊ, BRIM, RÔUÚ, etc. (ver na última página, os exercícios de vocalize)

Para adquirir velocidade e volume:
Faça o músculo abdominal atuar nota por nota, “como a subida dos degraus de uma escada” (a consoante R ajuda na passagem das notas); portanto, sem fazer deportamentos, ligando uma nota com a outra, “como a subida de uma rampa lisa”.
Cante também em “staccato” (cortes secos e separados) a vogal (I – francês), enfatizando as notas com firmeza, beleza e, por fim, velocidade.
Utilize os vocalizes da última página: NIAAAAÃAAAA, NIOÔ, NIÚÚ, NIÊ, etc.

ATENÇÃO: Todo o início de aquecimento deve partir do registro médio-grave ao médio-agudo.
Após alguns minutos de intervalo ou repouso vocal, será possível, ao retomar os exercícios de vocalize, alcançar as notas agudas com maior segurança.

Sanando as dificuldades que podem surgir durante o canto:
1 - Se a voz estiver “engolada” ou “entubada”, certamente é porque a língua está relaxada e pesando sobre as pregas vocais. Estender (esticar) a língua ao máximo, durante 10 segundos. (se o fizer em público, em aula, faça uma concha com as mãos para escondê-la; mostrá-la é deselegante). Desta forma ficará bem posicionada.

2 - Afonia (rouquidão) por demasiado esforço, tensão nas pregas vocais devido a longas conversas no telefone, gritarias, má utilização da voz: Fazer exercício de ressonância com (brrrr) e “bocca chiusa”, procurado o ponto de brilho, somente nos registros médio e grave. Dar descanso à voz e tomar água ao longo do dia.

3 - Irritação ou Infecção nas pregas vocais (provenientes de resfriados; secura na garganta, devido ao clima seco e poluído; mau uso da voz): Fazer gargarejo com meia colherinha de bicarbonato de sódio diluído em 100 ml de água. Fazer o gargarejo após as refeições, nos dias em que a infecção permanecer. Mantenha as pregas vocais sempre protegidas com alguma espécie de melaço, via spray ou colher de chá; ou chupando balinhas de hortelã; (não se esqueça de fazer higiene bucal [escovar os dentes], pois o açúcar fermenta e produz cáries).

4 - Renite alérgica (devido ao ar poluído; pó, mofo, fumaça, etc). – a obstrução das fossas nasais prejudica a boa emissão canora. Há diversos antialérgicos que sanam a renite. Ex: Budecort – spray. Não deixe de consultar um médico otorrinolaringologista.

Boa Dieta:
Não deixe de tomar 2 litros de água por dia. (Mantém as pregas vocais e os ressonadores úmidos e livres de secreções (pigarro).
Chocolate, doce de leite e suco de laranja: aconselha-se não consumir antes de cantar, pois produzem secreções.
Refrigerante: Evite, pois ao contrário de matar a sede, desidrata as pregas vocais.
Maça: é um excelente absorvente de gordura que contribui para remover as secreções nas pregas.
Banana e abacate: hidratam as pregas, protegendo-as.

3 comentários:

  1. Agradeço muitíssimo esta publicação. São poucos os manuais de técnica vocal que oferecem de forma sintética e clara o tema abordado.
    Faço votos de sucesso para a boa divulgação de seu blog.
    Att. Ricardo

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  2. Parabéns. Muito bom mesmo. Estou começando, se tiver alguma dica por favor mande para o meu e-mail mxavier@windowslive.com

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  3. Vc teria mais alguma coisa sobre técnica vocal?

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